Pela manhã aspiro a um bom dia luminoso, qualquer que seja a estação do ano. Mais um dia em que teço gestos com vontade de abraçar tudo o que é meu, tudo o que levo num sentir ilimitado. E os meus olhos clamam por mais, pelos dias certos de ternura, em que me entrego em demasia a sentimentos escarlates, nesse perfume cor de rubi que me acalma a pele. O sol entranha-se no corpo e delicia os meus últimos instantes no aconchego dos lençóis. Uma determinação de ficar assim, durante mais uns momentos de conforto é vencida pelo azul do céu que me convida a refrescar a alma. Levanto-me, com uma energia quase eléctrica, ouço os ritmos suaves da bossa-nova alternados com a sensualidade do tango. São melodias quentes que de mim soltam passos eufóricos de dança enquanto espero que a água da chaleira ferva. Não me sento para esse ritual quase diário que é o pequeno-almoço. Pelo contrário, continuo a balançar, entre o pão torrado e o aroma do café. De pés descalços, em pleno mês de Fevereiro, rodopio num mosaico gélido que não sinto, entrego-me à melodia. Todos os dias deveriam ser assim, de alegria contagiante, sem pressas, sem horários pré-definidos, sem autocarros que quase se perdem e apenas não se perdem porque corremos para lá chegar, sem banhos rápidos, sem meia chávena de chá que ficou na mesa da cozinha a arrefecer, sem aquela sensação quase sempre certa de que falta alguma coisa na mala, sem a frivolidade de cruzarmo-nos com as pessoas na rua sem tempo para esboçar um sorriso e dar um alegre bom dia. Aprendi a valorizar o sol que me acompanha enquanto caminho, que me deixa observar o mundo em meu redor, a gente que aqui co-habita, o trânsito que sigo à distância, os passos que seguem com pressa, os cheiros citadinos. Hoje, por isso, vou a pé para a universidade, porque desta forma os meus olhos se preenchem de sentido logo pela manhã. Haja sol todos os dias.
A boca já não tem mais o gosto de tutti-frutti. Acordou com o pescoço dorido, dormiu de mau jeito. A almofada amassada na cabeceira, a de apoio acidentalmente no chão. A cama está vazia. Marcada e vazia. A cama?...
Os olhos não brilham tanto assim no espelho. O frio na barriga vira uma saudade do que não houve, nunca houve. Olha a parede verde, olha as fotos na parede, se pergunta o que está fazendo ali. Vê a poltrona vermelha e sente algo familiar. Roupas por guardar, roupas para lavar, uma mistura de perfumes em cada uma delas. Lembra.
O relógio apita novamente, redundante. Ela já está de pé. Dormiu? Aperta o off, que horas são. Aonde vai hoje, fará o quê. Almoçará correndo. Fome? Leite, café, pão, sem nada, puro, molhado na caneca vermelha. A cama continua desforrada, a forra como pode, queria ouvir música a essa hora da manhã. Precisa de melodia. Precisa de poesia. As chaves. Sai.
Em paz eu digo que eu sou
O antigo do que vai adiante
Sem mais eu fico onde estou
Prefiro continuar distante...
Queria ter a certeza de que, apesar de minhas renúncias e loucuras, alguém me valoriza pelo que sou, não pelo que tenho... que me veja como um ser humano completo, que abusa demais dos bons sentimentos que a vida lhe proporciona, que dê valor ao que realmente importa, que é meu sentimento... e não brinque com ele. E que esse alguém me peça para que eu nunca mude, para que eu nunca cresça, para que eu seja sempre eu mesma.
Eu sou lúcida na minha loucura, permanente na minha inconstância, inquieta na minha comodidade.
Pinto a realidade com alguns sonhos, e transformo alguns sonhos em cenas reais.
Choro lágrimas de rir e quando choro pra valer não derramo uma lágrima.
Amo mais do que posso e, por medo, sempre menos do que sou capaz. Busco pelo prazer da paisagem e raramente pela alegre frustração da chegada. Quando me entrego, me atiro e quando recuo não volto mais. Mas não me leve a sério, sei que nada é definitivo. Nem eu sou o que penso que eu sou. Nem nós o que a gente pensa que tem. Prefiro as noites porque me nutrem na insônia, embora os dias me iluminem quando nasce o sol. Trabalho sem salário e não entendo de economizar. Nem de energia. Esbanjo-me até quando não devo e, vezes sem conta, devo mais do que ganho. Não acredito em duendes, bruxas, fadas ou feitiços. Não vou à missa. Nem faço simpatias. Mas, rezo pra algum anjo de plantão e mascaro minha fé no deus do otimismo. Quando é impossível, debocho. Quando é permitido, duvido.Penso mais do que falo. E falo muito, nem sempre o que você quer saber. Eu sei. Gosto de cara lavada — exceto por um traço preto no olhar — pés descalços, nutro uma estranha paixão por camisetas velhas e sinto falta de uma tatuagem no lado esquerdo das costas.
Mas há uma mulher em algum lugar em mim que usa caros perfumes, sedas importadas e brilho no olhar, quando se traveste em sedução. Se você perceber qualquer tipo de constrangimento, não repare, eu não tenho pudores mas, não raro, sofro de timidez. E note bem: não sou agressiva, mas defensiva. Impaciente onde você vê ousadia. Falta de coragem onde você pensa que é sensatez.
Mas mesmo assim, sempre pinta um momento qualquer em que eu esqueço todos os conselhos e sigo por caminhos escuros. Estranhos desertos. E, ignorando todas as regras, todas as armadilhas dessa vida urbana, dessa violência cotidiana, se você me assalta, eu reajo.
Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.
O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.
Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.
Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.
Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.
Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.
Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então?
Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.
Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.
Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara?
Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.
É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.
Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?
Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.
Não funciona assim.
Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.
Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família,tem muitos.
Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é!
Quantas vezes
Já me perguntaram
Quantas vezes
Já me indagaram
Quem é você…
Como você é…
De onde vem
Pra onde vai…
Quantas perguntas
Quantos julgamentos
Quantos enganos
Quantos…
Tudo é tão simples
Sou assim…
Nasci e cresci
Num lar com muito amor
Com muito calor…
Sou amor, sou paixão…
Sou amiga, sou mulher…
Sou esposa, sou mãe.
Sou carinho, sou ternura…
Sou encanto, sou magia…
Sou o que sempre fui
Seja aqui seja lá
Seja onde for…
Você saberá onde me achar
Você saberá
Quando eu chegar.
Será emoção
Será ternura
Será magia
Será encanto.
Quem sabe…
Um dia você…
Descubra quem sou…
De onde vim
Pra onde vou…
Entre linhas
Entre versos
Entre um antes
Entre um depois…
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. ANALISANDO... a coisa mai...
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